O sucesso dos negócios rurais está cada vez mais associado à capacidade de boa interação e inserção adequada do empreendimento rural no ‘ambiente de negócios’ do qual faz parte. Se, por um lado, a competência técnica é pré-requisito para a excelência e qualificação dos produtos a serem comercializados, cuja visão ‘ex-post’ à produção em si é fundamental, por outro, não se pode desconhecer que o gerenciamento da propriedade rural, se bem conduzido, é a chave para os ajustes de eficiência que abrem as portas ao aumento da lucratividade.
Naturalmente, essa gestão possui muitos perfis e se segmenta, por exemplo, em aspectos financeiros e contábeis, assim como naqueles relacionados à força de trabalho e capital intelectual, gestão da qualidade, planejamento e monitoramento da produção, entre outros aspectos que chamam o empresário rural ao compromisso de organizar-se de uma maneira clara, assertiva, sem subterfúgios ou procrastinação. Formalmente, há muitos conceitos que buscam definir a ‘gestão rural’. Neste breve artigo, simplificaremos essas visões em como sendo o conjunto dos “processos que ajudam o produtor rural na tomada de decisão mais rápida durante a administração do seu negócio no campo ”. Afinal, é exatamente a capacidade de tomar decisões adequadas, no tempo correto, que faculta ao empresário obter as maiores chances de sucesso em seu negócio.
Apesar dessa importância, durante muito tempo, particularmente no caso das pequenas e médias propriedades rurais brasileiras, os processos de tomada de decisão foram lastreados principalmente em critérios intuitivos, na experiência e, ou, na visão de mundo ou dos gestores e empresários rurais. Com o passar do tempo, todavia, e com a necessidade de reduzir o risco em ambientes incertos e aumentar a eficiência no uso de recursos escassos, esses mesmos gestores viram a necessidade de investir recursos – humanos, financeiros, de tempo, tecnológicos e informacionais – para melhor comporem suas estruturas de tomada de decisão. Assim, nesse sentido, a gestão rural deixa de ser um tema associado apenas a boas práticas administrativas e torna-se essencial para a manutenção e, ou, expansão, de parcelas de mercado, ou mesmo para identificação de novos nichos de atuação empresarial.
Nesse âmbito, em interessante resenha sobre a gestão de pequenas propriedades rurais feito pela equipe FieldView, são apresentados três pilares – ou tripé, como designam os autores – que compõem a gestão rural eficiente: processos, pessoas e ferramentas. Para os autores, compreender que a empresa rural possui ‘processos’ (e não apenas sistemas de produção independentes) é um primeiro passo importante, já que na identificação de gargalos nos processos, emerge a possibilidade de aprimoramento da gestão.
No quesito ‘pessoas’, os autores indicam três reflexões como necessidades fundamentais: comunicação transparente; investimento em treinamento; e consideração dos diferentes tipos de aprendizagem. De fato, entender esta categoria não apenas como mão-de-obra, mas como estrutura contributiva para o desenvolvimento dos processos na propriedade é fundamental, e quanto maior a percepção de valorização, maior o comprometimento, o que sempre se associa a ganhos de eficiência.
Por fim, destaca-se a importância de valorizar as ‘ferramentas’ disponíveis, tanto aquelas focadas em ganhos técnicos objetivos (comumente associadas a máquinas e equipamentos) quanto, e talvez sobretudo, aquelas associadas ao favorecimento da própria gestão, inclusive a gestão da informação. Afinal, como já vimos, a boa informação permite aumentar a resiliência em ambientes incertos, o que é comum nos dias atuais. Para além das competências individuais, sempre válidas, atualmente existem vários produtos e programas de suporte à tomada de decisão na propriedade rural, que podem, em muitos casos, simplificar procedimentos e auxiliar na organização gerencial das propriedades.
Todas essas reflexões, apesar de sintéticas neste artigo, têm por finalidade destacar, de maneira clara e bem definida, a importância a gestão rural para o sucesso dos empreendimentos agro. Se é certo que esta assertiva vale para todos os segmentos e portes de empreendimentos, ela é ainda mais importante para as pequenas e médias propriedades que, por suas próprias características, possuem menor capacidade autônoma de alavancagem ou recuperação. Por isso, para elas, a gestão bem fundamentada e eficiente funciona como um anteparo ao risco, um fator de resiliência, fazendo com que se tornem não apenas mais competitivas, mas mais longevas, flexíveis e bem-sucedidas.
Viviani Silva Lirio é professora Titular do Departamento de Economia Rural (DER) da Universidade Federal de Viçosa (UFV).