Partindo já para a reta final do 1° trimestre de 2023, é momento de compilar os dados e fazer um balanço sobre o desempenho do agronegócio no ano passado e, cá entre nós, um grande ano para o setor. Apesar de todos os desafios com o clima, custos, disponibilidade de insumos, cenário político com as eleições e todos os outros fatores externos do período que chamamos de “variação violenta das variáveis” (3V’s), o agro brasileiro conseguiu resultados relevantes, especialmente quanto ao nosso papel de fornecer alimentos ao mundo.
Só para termos uma ideia, em dezembro de 2022 as exportações do agronegócio registraram o 12° recorde, ou seja, todos os meses do ano foram marcados por resultados que superaram os valores históricos já registrados. As receitas de 2022 somaram US$ 159,09 bilhões, crescimento de 32,0% no comparativo com 2021 e representando 47,6% de tudo o que foi exportado pelo Brasil, segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Se colocarmos esses números em um esquema cronológico, considerando o valor médio do dólar a R$ 5,20 em 2022, as receitas do agro somaram R$ 826,8 bilhões, o que significa R$ 68,9 bilhões por mês; R$ 2,3 bilhões por dia; R$ 94,4 milhões por hora ou R$1,6 milhão por minuto. Incrível, não é mesmo? Só o tempo que você levou para ler esse texto até aqui, o setor agropecuário brasileiro já vendeu em torno de 3 milhões de reais a diversos países espalhados pelo mundo todo.
Ainda sobre as exportações, outro aspecto interessante de destacar trata do saldo final da balança comercial, afinal, mais importante do que trazer grandes receitas com exportações é também manter estes recursos no mercado interno para gerar desenvolvimento econômico e social; em suma, reduzir “gastos” com importações. Considerando que o agro comprou US$ 17,24 bilhões em 2022, fechamos com saldo positivo de US$ 141,85 bilhões, alta de 35,1% na comparação com 2021 ou 90% de todas as receitas arrecadadas.
É fato que as receitas cresceram de forma expressiva em vista da alta também nos preços, mas o Brasil não deixou de fazer seu papel como “Fornecedor Global Sustentável” de alimentos e agroprodutos, já que os volumes cresceram 8,0% no último ano. Não à toa que um estudo feito pela Embrapa estimou que o agronegócio brasileiro é responsável por fornecer alimentos para cerca de 800,0 milhões de pessoas e a nossa contribuição para o abastecimento a nível nacional e global deverá aumentar ainda mais nos próximos anos.
Em relação ao Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) – que significa o faturamento bruto dentro dos estabelecimentos rurais (preço dos produtos no campo x volume vendido) – o Mapa consolidou incríveis R$ 1,189 trilhão, o segundo maior patamar estimado em 34 anos de cálculo desse indicador. As lavouras representaram 68,5% da renda no campo, somando R$ 814,77 bilhões, enquanto a pecuária teve participação de 31,5%, totalizando R$ 374,27 bilhões. No ranking geral, a soja foi o produto que apresentou a renda mais expressiva, a despeito de sua queda de 12% em relação a 2021, mas fechou o último ano com ganhos de R$ 338,13 bilhões. Na produção animal, a cadeia da carne bovina foi a mais representativa, com R$ 151,10 bilhões, embora também tenha registrado queda, de 4,4%.
O Brasil é hoje o maior exportador de açúcar, café, suco de laranja, soja em grãos, celulose, carnes bovina e de frango; o segundo de algodão em pluma, óleo de soja e milho; e o quarto de carne suína. Com todas essas posições de liderança, é inegável nossa representatividade significativa na safra global. E toda essa força e importância que o agro tem em nosso país ajudam não só no desenvolvimento econômico, mas também no social e ambiental.
Analisando dados divulgados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), do fechamento do terceiro trimestre de 2022, podemos observar que o agronegócio emprega mais de 19 milhões de pessoas pelo Brasil, correspondendo a mais de 20% dos empregos ocupados no país. Esses números refletem o desempenho favorável do setor, que podem chegar a superar os patamares pré-pandemia. Ainda, o agronegócio foi capaz de abrir cerca de 65 mil novos empregos em 2022, segundo Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged) do Ministério do Trabalho e Previdência (MTP).
O ano de 2022 foi marcado por muitos desafios, porém mesmo em meio a tantas incertezas, o trabalho duro dentro e fora da porteira continuou. A adoção de novas tecnologias vem permitindo gradativamente o incremento da produção e, ao mesmo tempo, o aumento da consciência e preservação ambiental para reforçar o compromisso do agro como vetor crucial do progresso do nosso país. A missão de alimentar a sociedade com praticidade e segurança foi resiliente, quebrou barreiras e mostrou mais uma vez toda a sua potência. Que 2023 seja ainda melhor!
Marcos Fava Neves é Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da EAESP/FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio. Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group, formado em Engenharia Agronômica pela FCAV/UNESP e mestrando na FEA-RP/USP. Beatriz Papa Casagrande é consultora na Markestrat Group e aluna de mestrado na FEA-RP/USP com formação em Engenharia Agronômica pela ESALQ/USP.