O agronegócio brasileiro é motivo de orgulho e faz história para o nosso país. O setor produtivo agrícola vem transformando a economia ano a ano, incrementando sua produção mesmo em meio a inúmeras incertezas. As adversidades climáticas durante o desenvolvimento da 1ª safra não impediram a estimativa para os grãos de alcançarem 310,6 milhões de t em 2022/23, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Apesar da queda na projeção de fevereiro, esse volume significa um valor 14,0% acima do alcançado na safra anterior e mais um recorde para a nossa conta.
A redução feita pela Conab em fevereiro pode ser explicada pelas dificuldades na colheita da soja – principalmente no Centro-Oeste – devido as chuvas recorrentes e, consequentemente, ao atraso no plantio da 2ª safra do milho, o que acaba impactando sua janela ideal de semeadura. Por outro lado, o extremo Sul do país sofre com chuvas irregulares e baixos índices pluviométricos. Os desafios são grandes, mas ainda assim o cenário permanece bastante animador para os agricultores.
Para a soja, a Conab estima uma produção de 152,9 milhões de t, o que representa um incremento de 21,8% em relação ao ciclo anterior, enquanto isso as exportações têm potencial de ultrapassar 90 milhões de t. Apesar da oferta do grão ser maior, a quebra de safra na Argentina mantém os preços a patamares elevados, contudo, é preciso ficar de olho também na redução da demanda chinesa.
Olhando para o milho, a colheita da 2ª safra deve resultar em 95 milhões de t, consolidando um aumento de 10,6% no comparativo ao obtido em 2021/22. A atual conjuntura tende a garantir boa rentabilidade aos produtores de milho. Além das estimativas de redução na produção argentina, existem incertezas em relação a logística de escoamento do cereal ucraniano pela Europa, uma vez que vem sendo observada a intensificação do conflito na região, infelizmente. Somado a isso, existe uma forte demanda internacional pelo grão puxada principalmente pela China, que abriu as portas para o milho brasileiro no final de 2022.
Já para o algodão, as negociações acontecem em um ritmo um pouco mais lento. Com um aumento esperado na produtividade, a oferta está projetada para atingir cerca de 3 milhões de t de pluma, 19,2% a mais que a temporada passada. Apesar da reabertura do mercado chinês e melhoria da comercialização no mercado internacional, ainda há uma grande preocupação sobre uma possível recessão econômica global. Esse contexto, se confirmado, afeta diretamente o setor têxtil, uma vez que não representam produtos prioritários ao consumidor em situações de menor renda.
No café, contrariando os ciclos históricos de evolução da produção, mesmo a safra de 2023 sendo ano de bienalidade negativa, a previsão é de que a colheita supere os números de 2022 por conta dos problemas climáticos sofridos no ano passado, ficando em 37,4 mil sacas (60 kg) para o arábica (14,4% acima do volume da temporada anterior). Em várias regiões do país, as lavouras cafeeiras enfrentaram baixos índices de chuva, longos períodos de estiagem e altas temperaturas. Diante disso, a expectativa é de que os estoques sejam recuperados neste ano mesmo com as chuvas em excesso, que acabam colaborando no desenvolvimento da cultura e garantindo maior qualidade e uniformidade às lavouras.
Por fim, as projeções da Conab para a cana-de-açúcar em 2022/23 indicam uma produção de 598,3 milhões de t, um crescimento de 2,2% sobre o volume da safra 2021/2022. Tal acréscimo é resultado da maior produtividade obtida nos campos devido a melhoria das condições das lavouras, situação que não ocorreu nos anos anteriores por conta das estiagens e geadas.
Podemos perceber que o clima tem sido um grande balizador nos resultados do setor agrícola, além de ser uma variável que merece muita atenção dos produtores. Certas condições climáticas podem tanto atrapalhar, quanto beneficiar as culturas. Além disso, interferem no delineamento das operações e nas prioridades dos tratos culturais. Somado a isso, o Brasil é um país de dimensões continentais que conta com regiões e realidades dos mais diferentes tipos, ou seja, o que pode funcionar para um, pode não ser o mais indicado para outro.
A agricultura é uma indústria a céu aberto, inserida em contexto bastante desafiador, mas que ainda assim, consegue se superar ano a ano em função do trabalho duro dos produtores. O planejamento aliado aos contínuos investimentos em tecnologia vêm transformando o Brasil no fornecedor mundial sustentável de alimentos e produtos agrícolas. Para o futuro, essa posição só tende a ser cada vez mais consolidada.
Por:
Marcos Fava Neves é Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da EAESP/FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio.
Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group, formado em Engenharia Agronômica pela FCAV/UNESP e mestrando na FEA-RP/USP.
Beatriz Papa Casagrande é consultora na Markestrat Group e aluna de mestrado na FEA-RP/USP com formação em Engenharia Agronômica pela ESALQ/USP.