Antes de falarmos do quanto o agronegócio agrega ao nosso país, vamos a pergunta: qual é a diferença entre agropecuária e agronegócio? O conceito de “agronegócio” surgiu em 1957 com os professores John Davis e Ray Goldberg da Universidade de Harvard, que ampliaram a definição para englobar todas as atividades econômicas quais o setor movimenta, incluindo, dessa forma, não só a agricultura e pecuária (o elo “dentro da porteira”), mas também o “antes da porteira” (indústria de insumos, distribuidores e cooperativas) e o “depois da porteira” (tradings, cooperativas, agroindústrias, indústria de alimentos, varejo e food service), até que os produtos cheguem aos consumidores finais.
Diante disso, podemos enxergar que o agronegócio não está atrelado apenas a visão de fazenda, mas sim a toda uma cadeia sofisticada que, além da produção agropecuária, conta com o desenvolvimento de matérias-primas, ciência, tecnologia, máquinas, insumos, armazenamento, processamento, distribuição, associações, organizações e outros serviços. É válido, portanto, analisar o setor de forma integrada com todos os elos que fazem parte desse ambiente complexo e reconhecer o enorme impacto que causa na economia e sociedade. Não é à toa que a participação do agronegócio no PIB brasileiro alcançou 24,8% em 2022, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP.
Por envolver uma série de agentes, o setor está exposto a interferências de diversas variáveis macroambientais. Por exemplo, o que ocorre na esfera política/regulatória, econômica, sociocultural, tecnológica e natural vai exercer impacto em diferentes níveis do funcionamento da cadeia. O fluxo das atividades e operações exercidas é regido por leis e contratos, engloba inúmeros investimentos, sofre ação do comportamento de consumo da população, depende do desenvolvimento de novas soluções e, além de tudo, é uma fábrica a céu aberto que está à mercê das adversidades climáticas o tempo todo.
Mesmo assim, o Brasil se destaca em sua eficiência produtiva, o que resulta em inúmeros recordes de produção e produtividade. Somos um dos maiores produtores agrícolas do mundo, agraciados pelo clima tropical que nos permite produzir não só uma, mas até três safras em uma mesma área. Ou seja, nós temos a capacidade de aumentar o volume por área e, ao mesmo tempo, converter áreas de pastagem degrada em agricultura, sem abertura de floresta.
Segundo o estudo “Projeções do Agronegócio Brasileiro 2021/22 – 2031/32”, de autoria do Mapa (2022), a produção de grãos deverá crescer 36,6% no período, saindo das atuais 271,2 para 370,5 milhões de toneladas; um crescimento anual de 2,7% e volume adicional de 99 milhões de toneladas até 2031/32. Entre os principais produtos do agro, a soja em grão deve liderar os volumes com produção de 179,3 milhões de toneladas em 10 anos, crescimento de 42,8% (figura 18). Já o milho deve alcançar 149 milhões de toneladas produzidas, um salto de 32,3% na comparação com a oferta atual.
Em 2022, as exportações do agronegócio brasileiro totalizaram US$ 159,1 bilhões, de acordo com o Ministério da Agricultura, um crescimento de cerca de 32% na comparação com 2020. Por conta desses resultados, o saldo da balança comercial totalizou um superávit de US$ 141 bilhões, sustentando o déficit dos demais setores, o qual chegou a ordem dos US$ 80 bilhões, conforme podemos observar na figura 16, abaixo. Entre os anos de 2002 e 2022, as receitas com exportações do agro brasileiro tem crescido 9,7% ao ano; enquanto que as compras (importações) vem em ritmo mais lento, cerca de 7,0%. Como resultado, o crescimento do saldo positivo é de 10,2% ao ano, e segue em escalada e sustentado muitos outros setores da economia.
Todo esse potencial é revertido em geração de renda interna, seja pelas movimentações para produção e consumo interno, ou ainda por intermédio de receitas advindas de exportações. Imagine só: é fato que você consome produtos que são provenientes do agronegócio, portanto, todos nós colaboramos para retroalimentar essa cadeia essencial à nossa vida e a evolução da sociedade. O valor do agronegócio para o Brasil e para o mundo é inestimável.
Estes são apenas alguns dos indicadores que podem ser usados para mostrar a importância que o agronegócio – o melhor negócio do Brasil – tem para a economia nacional. É notável que a nossa vocação é a produção e o fornecimento de alimentos, bioenergia e outros agroprodutos. Viva o agro!
Artigo desenvolvido por Marcos Fava Neves, Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da EAESP/FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio. Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group, formado em Engenharia Agronômica pela FCAV/UNESP e mestrando na FEA-RP/USP. Beatriz Papa Casagrande é consultora na Markestrat Group e aluna de mestrado na FEA-RP/USP com formação em Engenharia Agronômica pela ESALQ/USP.