O Centro de Tecnologia Canavieira estima que a área plantada com cana-de-açúcar transgênica resistente à broca praticamente dobrará na nova safra do Brasil, que começou neste mês no centro-sul, à medida que o setor está fortalecido para investir em mais produtividade e vê a biotecnologia mais disponível.
A empresa líder em ciência canavieira, que teve entre 2017 e 2018 a primeira cana geneticamente modificada do mundo aprovada para uso comercial por órgãos reguladores no Brasil e exterior, avalia que as variedades Bt estarão em 70 mil hectares da safra 2022/23, ante 37 mil na temporada recém-encerrada no centro-sul.
Considerando a área total de cana do Brasil, de 8,2 milhões de hectares na safra passada (2021/22), a cana geneticamente modificada ainda ocupará uma pequena área relativa, porque a multiplicação das variedades adaptadas aos diferentes tipos de solo não é tão rápida como no caso de sementes de soja e milho transgênicas.
Mas, já com cinco anos desde as primeiras aprovações do uso da cana transgênica resistente ao ataque de inseto, e com quatro variedades comerciais que confirmaram resultados no campo, a expectativa é de avanço mais rápido de agora em diante, segundo avaliação de executivo do CTC.
“O produtor primeiro quer ver para crer, e precisa ter a disponibilidade de mudas para poder crescer. Agora, tendo mudas e resultados, as duas coisas permitem que ele possa ir alavancando”, afirmou o diretor comercial do CTC, Luiz Paes, em entrevista à Reuters.
Ainda hoje, o CTC é a única empresa no mundo a dispor da tecnologia de cana geneticamente modificada para comercialização em escala comercial.
Paes explicou que a primeira variedade lançada exigia o plantio em uma terra muito boa, e que novas canas transgênicas colocadas no mercado já podem ser plantadas em áreas com solos mais “restritivos” ou ruins, o que estimula a adoção.
A cana resistente à broca é considerada um importante aliado do produtor, uma vez que o CTC estima que o inseto gera prejuízos de 5 bilhões de reais por ano à indústria brasileira, considerando perdas de produtividade agrícola e industrial, qualidade do açúcar e custos com inseticidas.
“Nessa área (com a cana transgênica), a perda pela broca vai estar limitada”, ressaltou Paes.
O CTC pesquisa ainda cana transgênica resistente a herbicidas, e acredita que o produto poderá estar disponível em breve. “Possivelmente, a cana RR em mais duas safras esteja pronta para lançar”, afirmou Paes, ressaltando que o produto precisaria passar por todo o rito regulatório, como a aprovação do órgão de biossegurança CTNBio.
O executivo comentou que a adoção da tecnologia por usinas brasileiras vai do Paraná até o Nordeste, e que o CTC já conta com cerca de 170 clientes, que respondem pela maior parte da moagem do país.
Segundo ele, considerando que o setor de forma geral vive uma situação financeira melhor do que no passado, em meio a bons preços do açúcar e etanol, a expectativa é de mais investimentos na renovação dos canaviais, o que beneficia o CTC, que cobra royalties pela tecnologia.
“A melhora do setor nos auxilia muito”, afirmou, acrescentando que, quando a situação econômica é ruim, o produtor reduz a taxa de renovação do canavial, por exemplo.
Ele comentou que, das áreas de cana replantadas anualmente, o CTC costuma ter uma fatia de mercado de cerca de 40%. Em média, cerca de 15% da cana, uma cultura semiperene, é renovada todos os anos.
Lançamento
Enquanto isso, o CTC prepara novos lançamentos de variedades convencionais e superprodutivas.
Para a próxima safra (2023/24), deve estar disponível o produto da nova série 10.000, que promete produtividade em torno de 14 a 16 toneladas de açúcar por hectare (TAH), um salto de cerca de 30% ante as variedades disponíveis atualmente.
Levando-se em conta a produtividade média do centro-sul do Brasil, maior região canavieira do mundo, esse índice é ainda mais expressivo.
“Para efeito de comparação, estamos falando em uma média do centro-sul abaixo de 10 toneladas por hectares na última safra, que teve uma condição ruim pela seca”, disse Paes, observando que em condições climáticas normais a região consegue um rendimento acima de 10 TAH.
Para alcançar tais objetivos, o CTC realizou nos últimos anos investimentos em Pesquisa & Desenvolvimento da ordem de 1 bilhão de reais, avançando em novas ferramentas de bioestatística que proporcionam melhor escolha dos parentais a serem utilizados nos cruzamentos entre as mais de 5.000 variedades de cana de seu banco de germoplasma, o maior do mundo.
Segundo o diretor comercial, em algum momento tais variedades com maior potencial produtivo podem ter adicionadas tecnologias transgênicas, o que demandaria alguns anos após o lançamento da cana, fortalecendo ainda mais o produto.
Fonte: Reuters