Agir proativamente e de maneira colaborativa – ações fundamentais no desenvolvimento do cooperativismo – é um desafio gerencial de proporções relevantes no mundo corporativo atual. Isso ocorre não apenas por motivos culturais e de perfil de gestão individual, mas também por outros motivos, como os desafios do uso do tempo despendido nessas atividades. Por isso, é relativamente comum que ações participativas sejam relegadas a um plano secundário, no rol das extensas prioridades dos empresários na atualidade, sem que se tenha clareza das reais perdas trazidas por esse comportamento. De fato, abrir mão do direito de participação e voto conscientes, e mesmo da atuação proativa e propositiva, pode ter consequências danosas sobre o sucesso coletivo e sobre as pretensões estratégicas da cooperativa.
Esta questão é tão relevante que tem sido foco de análise de vários estudos no Brasil e no exterior[1]. Nesse sentido, vale abrir esse breve texto com a reflexão desenvolvida por Albino e Almeida (2015), na qual os autores afirmam que “o cooperativismo é tido como um dos principais instrumentos para a promoção do desenvolvimento econômico e social, mas para que as cooperativas atinjam esse estágio é necessária à participação dos cooperados, principalmente nas assembleias, sendo esse o órgão de maior representatividade da organização”. (ALBINO e ALMEIDA, 2015, pág. 01)[2].
Por isso mesmo, é importante que o processo de educação cooperativista e a existência de um espaço de escuta e acolhimento de novas propostas e ideias seja sempre uma realidade no contexto da participação do associado. Quando essa ação se restringe à presença periódica e nem sempre bem compreendida quando da ocorrência das assembleias ordinárias extraordinárias, a participação, em si, fica restrita, e as possibilidades colaborativas se reduzem, favorecendo o afastamento e, ou, o desenvolvimento da presença de ações free rider (carona), um movimento no qual “o participante avalia como baixos os benefícios e altos os custos da participação, transferindo a sua parcela de responsabilidade pela participação para outros”. (FONTES FILHO, MARUCCI e OLIVEIRA, 2008)[3].
O trabalho de Fontes Filho, et al (2008), apesar de voltado à realidade mais específica das cooperativas de crédito retrata, em boa medida, as ocorrências nas demais modalidades de ação cooperativista, discutindo aspectos como o perfil do associado, nível de participação, motivos da baixa participação, motivação de comparecimento, estratégias de mobilização e outras questões importantes, como o desenvolvimento de instrumentos para que os associados expressem suas opiniões, canais de informação e comunicação, e importância da representação.
Além dos pontos já citados, um dos destaques do trabalho refere-se à discussão do que é chamado paradoxo da participação versus a confiança. Para os autores, “as práticas de conscientização do espírito cooperativista se mostram importantes tanto para melhor adequar o comportamento dos participantes a esse universo, das cooperativas, e sua base valorativa e de ação quanto para reforçar a imagem positiva da atuação dos gestores, dado contribuir para sinalizar seu comprometimento com esses valores. ” (FONTES FILHO, MARUCCI e OLIVEIRA, 2008).
Por isso mesmo, a participação deve ser entendida como um tema fundamental e basilar da condução e gestão cooperativista e, por isso mesmo, esforços individuais e coletivos, dos associados e da gestão precisam migrar para um core, um cerne planejado e estratégico, onde o associado compreenda a importância de sua contribuição e visão e a gestão explicite a importância desse reconhecimento através de espaços de escuta reais, compilados em formatos interessantes e aderentes à realidade desses mesmos associados.
Participar está na raiz da lógica cooperativista. É um diferencial efetivo, importante e focado em um perfil empresarial que, cada vez mais, tem ganhado a espaço. Portanto, deve ser valorizado, estimulado e acolhido como fundamental. E você, caro leitor… tem participado ativamente de sua cooperativa, muito além das frequências regulares? Fica a dica: você e suas ideias são mesmo muito, muito importantes.
[1] A esse respeito, aos interessados sugere-se, entre outros, a leitura dos artigos: (a) Birchall, J e Simmons, R. What Motivates Members to Participate in Cooperative and Mutual Businesses? Annals of Public e Cooperative Economics, 75: 465-495, 2004; (b) Gonçalces, C. S., Rangel, L. H. V., e Araújo, R. B. Gestão e Autogestão Cooperativista: Um Estudo de Caso na Cooperativa de Trabalho COOMSER. II EIGEIDIM, 2018. Naviraí, MS. 19 p., (c)
[2] ALBINO, Pablo Murta B. e ALMEIDA, Hugo F. A falta de participação como fator limitante ao desenvolvimento das organizações cooperativas. RGC, Santa Maria, v.2, n.3, Págs. 01-14, jan. /jun. 2015.
[3] Artigo disponível em https://www.revistas.usp.br/rco/article/view/34724/147535. Acesso em maio de 2018.
Por Viviani Silva Lirio.