O controle de custos é um dos grandes desafios do agronegócio, apesar de ser um dos elementos de sustentabilidade econômico-financeira dos mais relevantes. Isso ocorre porque ainda existe, na gestão de parcela significativa das propriedades rurais, certo conservadorismo que tende a valorizar mais a experiência (no momento da tomada de decisão), do que dados concretos ou ferramentas de inteligência gerencial. Esse hábito é especialmente danoso se considerarmos que as chances de interferência nos preços de venda são muito restritas para a maioria desses empresários rurais[1], o que faz com que a atenção aos custos (parcela dos lucros sobre a qual o gestor tem alguma controlabilidade) seja muito importante.
Pensando nisso, a observação de ações estratégicas de controle de custos vem ganhando cada vez mais espaço, sendo mais relevante quanto mais instável for o mercado. Dentre essas estratégias, algumas se destacam pela convergência entre os especialistas: a atenção a todas as fases do processo produtivo; a gestão precisa dos custos em suas diferentes categorias; o uso da tecnologia (gerencial, de produção, de processos e de informação); a, tomada de decisão baseada em dados concretos e o planejamento. Dentre as ações de gerenciamento estratégico, a operação barter se destaca.
Na prática, o barter pode ser definido, como descrito por Castan (2022)[2], como sendo “uma operação gerenciadora de risco de mercado que possibilita a venda de insumos a longo prazo tendo como pagamento parte da produção agrícola”. Portanto, ao gerenciar riscos de mercado considerando processos de troca conhecidos, a operação barter acaba por atuar nos custos de produção de forma garantidora, inclusive nos custos de transação. Para Marino (2012)[3], a operação barter é uma espécie de financiamento de custeio fornecido pelo setor privado.
Há diferentes benefícios no uso dessa estratégia[4]. Além de facultar acesso a insumos agrícolas sem que seja necessário recorrer a empréstimos junto a instituições financeiras, o uso do barter permite planejar melhor o custo da produção com antecedência, aproveitando, o melhor momento para a compra dos insumos. Ademais, como a negociação é prévia, o barter protege contra oscilações de preços das commodities agrícolas (sempre mais vulneráveis às flutuações) e produtos e, por fim, como a negociação estabelece os insumos a serem utilizados em todo o processo, o produtor não fica sujeito à necessidade de refinanciamento do capital de giro.
Há diferentes modalidades de barter e estas diferenciam-se, principalmente, de acordo com o tamanho da área cultivada e o interesse, também, das empresas que financiam. Castan (2023), organiza, a partir da leitura e análise de outros autores, um interessante esquema gráfico (reproduzido a seguir), que sintetiza esses procedimentos.
Apesar de suas vantagens, entretanto, Marino (2012, pág. 01) alerta que “um problema em inúmeros canais no Brasil é a inexistência de processos transparentes e definidos de Trocas entre os profissionais de diferentes setores. A falta de comunicação entre os envolvidos nos processos e a centralização da comercialização de commodities agrícolas (hedges) nos sócios gestores aumentam a exposição do canal aos riscos. ” Por decorrência, é preciso ter em mente que não se trata apenas do uso dessa estratégia (ou de outras a ela associada), mas da garantia de profissionalização e a qualidade de seus operadores, bem como a disponibilidade de adequada tecnologia da informação e de gerenciamento das mesmas (ERP – Enterprise Resource Planning).
Por: Viviani Silva Lirio
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[1] Há, de fato, cada dia menos nichos de mercado nos quais a especificidade do produto, sua singularidade, bem como a estreiteza do intervalo de demanda permitem que o empresário do agro atue formando preços e definindo margens. Ainda assim, mesmo nesses casos, o aumento da competição via acesso a múltiplos mercados tem reduzido essa capacidade.
[2] CASTAN, D. Operação de Barter: o que é e como funciona no agronegócio. 2023. Disponível em https://boosteragro.com/blog-po/operacao-de-barter/. Acesso em 05 de fevereiro de 2023.
[3] Àqueles que desejarem informações mais completas sobre o tema, sugere-se, fortemente, a leitura dos artigos: MARINO, L. K. Gestão de riscos nas operações de trocas/barter. Disponível em https://www.agrodistribuidor.com.br/up_arqs/pub_20120925093832_unib_adsite_gestaoriscostrocas_2012_09_24.pdf. Acesso em 06 de março de 2023; e, MARINO, L. K.; MARINO, M. K.; CÔNSOLI, M. H. Gestão das operações estruturadas de trocas na distribuição do agronegócio. In: CÔNSOLI, M. A. (Org); PRADO, L. S. (Org.) & MARINO, M. K. (Org.). Agrodistribuidor: o futuro da distribuição de insumos no Brasil. São Paulo: Editora Atlas, 2011. p. 271– 287.
[4] Sugere-se a leitura do texto disponível em https://yellot.com.br/agronegocio/barter-entenda-como-funciona-e-quais-sao-seus-beneficios/.