Como foi 2022
O ano começou com boas perspectivas para a cotação da arroba do boi gordo. A cotação média em janeiro fora de R$331,33/@, preço bruto e a prazo, atingindo a máxima de R$342,00/@ em 9 março com média mensal de R$333,14/@.
Esse comportamento no primeiro trimestre foi possível com a retomada da exportação de carne bovina in natura para a China, suspensa desde setembro de 2021, devido a dois casos atípicos de encefalopatia espongiforme bovina (EEB), conhecida como a doença da “vaca louca”.
A partir de março, a cotação caiu.
Com o aumento do descarte de fêmeas, a oferta aumentou e os preços caíram.
Outro fator que pode ter enfraquecido o mercado, além do aumento da oferta de boiadas, foi o aumento dos contratos para entrega futura, garantindo preço para o pecuarista e boiadas para os frigoríficos. O pecuarista que travou os preços obteve bons resultados.
Em dezembro, com o encurtamento de escalas de abate e demanda ligeiramente melhor, o preço da arroba boi gordo ensaiou leve reação. Apesar disso, a cotação média no mês foi de R$278,80, queda de 10,9% em relação à média em dezembro de 2021.
Comportamento da cotação da arroba do boi gordo em 2021 e 2022.
Até o terceiro trimestre de 2022, foram abatidas 8,46 milhões de fêmeas (vacas e novilhas), incremento de 15,2% em relação ao mesmo período de 2021, quando 7,34 milhões de fêmeas foram abatidas, evidenciando uma mudança de oferta de gado.
Participação de fêmeas no abate de bovinos por trimestre de 2020 a 2022. Fonte: IBGE / Elaborado por Scot Consultoria
A exportação de carne bovina in natura e o consumo doméstico
Se o mercado interno viveu um ano desafiador, a exportação de carne bovina foi marcada pelo melhor ano da história. Até dezembro, 1,99 milhão de toneladas de carne bovina in natura haviam sido exportadas, com faturamento de US$11,81 bilhões, incrementos de 27,7% e 48,2%, respectivamente, frente a 2021.
Agosto apresentou o melhor desempenho mensal, com 203,22 mil toneladas de carne bovina exportadas.
A China comprou 62,2%, ou 1,24 milhão de toneladas, de toda a carne bovina in natura exportada. Na sequência aparecem Egito, Estados Unidos e Chile, mas com volumes muito menores comparado aos chineses.
Principais compradores de carne bovina in natura do Brasil em participação (%), em 2022. Fonte: Secex / Elaborado por Scot Consultoria
No mercado doméstico, apesar da oferta de carne maior em 2022 em relação a 2021, o ano foi marcado pela dificuldade no escoamento da produção. O consumo per capita de carne bovina caiu para o pior nível em 26 anos, em 2021.
A queda na cotação da arroba do boi gordo não foi sentida na mesma intensidade no mercado varejista, não estimulando, portanto, o consumo.
Disponibilidade interna aparente de carne bovina, em quilos per capita. Fonte: IBGE / Elaborado por Scot Consultoria
Como será 2023
A exportação de carne bovina deverá ser menor em 2023, após atingir recorde em 2022. A projeção é de que os chineses reduzam as compras de carne bovina em 9,2%, de todos os seus fornecedores. Apesar dessa retração o desempenho ainda deverá ser notável.
Em favor da exportação da carne brasileira, os concorrentes brasileiros estarão com os preços em alta. Na Austrália a cotação da arroba do boi gordo foi uma das maiores da história em 2022 e deverá continuar alta em 2023.
A exportação de carne argentina caiu, em função de ações que restringem o fluxo de carne para o exterior. Nada indica que isso mudará esse ano.
Nos Estados Unidos o quadro é de retenção de fêmeas para produção de bezerros em 2023, diminuindo o abate de bovinos e, consequentemente, a produção de carne.
No Brasil, a fase de baixa do ciclo de preços pecuários deverá se consolidar em 2023 e o abate de fêmeas ser maior. Com a maior disponibilidade de bovinos para abate, os preços da arroba do boi gordo deverão ser pressionados, podendo refletir na carne bovina para o consumidor interno.
Quanto ao consumo interno, a taxa de desemprego até o terceiro trimestre de 2022, teve um recuo de 0,8 pontos percentuais frente ao segundo trimestre anterior e de 34,1% referente ao mesmo período de 2021.
Em 2020 e 2021, a taxa de desemprego chegou a 14,6% e 12,6% respectivamente, contra 8,3% em 2022, trazendo boas expectativas quanto a recuperação do poder de compra do consumidor.
Resta saber como se comportará a economia diante da gestão do governo recém-empossado.
Por Alcides Torres, Felipe Fabbri, Isabella Cavalcante e Jéssica Olivier, analistas de mercado da Scot Consultoria
Comex Stat. Secretaria do Comércio Exterior.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
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